Post by SealView on Apr 17, 2007 17:08:22 GMT -3
"Fiz a indústria cair de joelhos"
Um soco na orelha, o tímpano estourado e a muralha da independência começou a ruir. Foi em Porto Alegre, após o lançamento de Canções Dentro da Noite Escura (2005), seu disco preferido: Lobão foi agredido porque subiu no palco e não cantou antigos sucessos. No estaleiro, deprimido e ouvindo pouco, decidiu que faria 50 anos cantando de novo para milhões de ouvidos. E dando a cara a tapa, dessa vez no sentido figurado.
"Trabalhei pra caramba como independente e consegui prestígio inédito. Vou ficar mais quatro anos num disco para outro idiota me dar uma porrada? Não, pensei: agora vou fazer um megasucesso, o melhor acústico que já existiu", diz o Lobo, no momento em que a crítica especializada o veste com pele de cordeiro.
Você já deve conhecer o resumo da ópera: após se tornar, por uma década, um ícone da produção musical independente, Lobão acaba de retirar os processsos que movia contra a gravadora Sony/BMG, está lançando por ela seu Acústico MTV - formato que já execrou -, e está tocando sem parar no rádio, veículo contra o qual já lançou suas garras, condenando sua relação com as grandes gravadoras.
"Incautos são os que especulam antes de ouvir meu novo disco, que vai desmoralizar os críticos. Meu empreendimento é maquiavélico. Quero dinamizar o cenário e dizer: 'vamos parar de demonizar as gravadoras, porque elas já encolheram o suficiente e mudaram a mentalidade'", afirma.
Defendendo-se, Lobão cita suas experiências como empresário, dono da revista OutraCoisa, voltada para o mercado independente - que lança novas bandas a cada dois meses -, além da vitória obtida na criação e aprovação da lei que obriga as gravadoras a numerarem os CDs vendidos.
"Fiz a indústria cair de joelhos e tentaram me destruir. Com essa trajetória, como podem dizer que sou uma Madalena arrependida?"¿, questiona.
Com o disco A Vida é Doce (1999), outro marco da carreira longe do "mainstream", Lobão vendeu expressivas 97 mil cópias - segundo ele, após participar na Rede Globo do programa do Faustão -, mas não ficou satisfeito. "Dei recorde de 43 pontos no Ibope e Faustão blefou sobre o número de CDs que eu tinha vendido, jogou lá em cima, e depois vendi muito mesmo. Aí, na saída, entrei no táxi e o motorista me perguntou: 'por que você parou?'", conta Lobão, demonstrando que a insatisfação vem de longe.
"Como independente, o cara pode ser um semi-famoso e vai buscar um bom padrão de vida. A pluralidade também é positiva. Mas eu sou um artista gigante. Tenho 300 músicas famosas, não caibo nesse setor. Minha missão é a de ser 'o cara', e tenho moral pra isso."
No Acústico MTV - que estreou ontem, às 21h, já com CDs e DVDs nas lojas -, Lobão incluiu três músicas do disco Canções... - Você e a Noite Escura, A Gente Vai Se Amar e Quente -, e quatro de A Vida é Doce, como a do título, El Desdichado, Pra Onde Você Vai e Vou Te Levar. Esta, oito anos após ser feita, estoura agora nas rádios. E Lobão sorri. Diz que merece ser ouvido, por fim. Este, quem sabe, justifica os meios. Com a palavra, o ouvinte.
Ex-inimigo
"Quando resolvi fazer o Acústico, as gravadoras me disputaram. Pensei: se meus inimigos me querem a peso de ouro, imagine os amigos", afirma Lobão, com uma gargalhada.
E seu mais novo amigo, não por acaso, é alguém contra quem ele já disparou sua metralhadora verbal: o executivo Alexandre Schiavo, presidente da Sony/BMG.
"O Schiavo me disse: você foi o responsável por nosso encolhimento. Mudamos e agora vamos juntos", conta. "Estamos dando um exemplo de conduta, é uma conversa entre homens grandes. Como vou brigar com pessoas que estão concordando comigo? Vamos é ganhar dinheiro."
O músico ressalta que seu Acústico não foi tratado como caça-níquel e que há poucos sucessos antigos. Em arranjos privilegiando os violões, estão no CD sucessos como Décadence Avec Élégance, Essa Noite Não e Me Chama. Do grupo Vímana, de 1976, Lobão gravou a inédita O Mistério ("a canção me veio durante um porre") e reeditou a pérola Bambina, que cantava com Alice Pink Punk no tempo de sua banda Os Ronaldos.
Um soco na orelha, o tímpano estourado e a muralha da independência começou a ruir. Foi em Porto Alegre, após o lançamento de Canções Dentro da Noite Escura (2005), seu disco preferido: Lobão foi agredido porque subiu no palco e não cantou antigos sucessos. No estaleiro, deprimido e ouvindo pouco, decidiu que faria 50 anos cantando de novo para milhões de ouvidos. E dando a cara a tapa, dessa vez no sentido figurado.
"Trabalhei pra caramba como independente e consegui prestígio inédito. Vou ficar mais quatro anos num disco para outro idiota me dar uma porrada? Não, pensei: agora vou fazer um megasucesso, o melhor acústico que já existiu", diz o Lobo, no momento em que a crítica especializada o veste com pele de cordeiro.
Você já deve conhecer o resumo da ópera: após se tornar, por uma década, um ícone da produção musical independente, Lobão acaba de retirar os processsos que movia contra a gravadora Sony/BMG, está lançando por ela seu Acústico MTV - formato que já execrou -, e está tocando sem parar no rádio, veículo contra o qual já lançou suas garras, condenando sua relação com as grandes gravadoras.
"Incautos são os que especulam antes de ouvir meu novo disco, que vai desmoralizar os críticos. Meu empreendimento é maquiavélico. Quero dinamizar o cenário e dizer: 'vamos parar de demonizar as gravadoras, porque elas já encolheram o suficiente e mudaram a mentalidade'", afirma.
Defendendo-se, Lobão cita suas experiências como empresário, dono da revista OutraCoisa, voltada para o mercado independente - que lança novas bandas a cada dois meses -, além da vitória obtida na criação e aprovação da lei que obriga as gravadoras a numerarem os CDs vendidos.
"Fiz a indústria cair de joelhos e tentaram me destruir. Com essa trajetória, como podem dizer que sou uma Madalena arrependida?"¿, questiona.
Com o disco A Vida é Doce (1999), outro marco da carreira longe do "mainstream", Lobão vendeu expressivas 97 mil cópias - segundo ele, após participar na Rede Globo do programa do Faustão -, mas não ficou satisfeito. "Dei recorde de 43 pontos no Ibope e Faustão blefou sobre o número de CDs que eu tinha vendido, jogou lá em cima, e depois vendi muito mesmo. Aí, na saída, entrei no táxi e o motorista me perguntou: 'por que você parou?'", conta Lobão, demonstrando que a insatisfação vem de longe.
"Como independente, o cara pode ser um semi-famoso e vai buscar um bom padrão de vida. A pluralidade também é positiva. Mas eu sou um artista gigante. Tenho 300 músicas famosas, não caibo nesse setor. Minha missão é a de ser 'o cara', e tenho moral pra isso."
No Acústico MTV - que estreou ontem, às 21h, já com CDs e DVDs nas lojas -, Lobão incluiu três músicas do disco Canções... - Você e a Noite Escura, A Gente Vai Se Amar e Quente -, e quatro de A Vida é Doce, como a do título, El Desdichado, Pra Onde Você Vai e Vou Te Levar. Esta, oito anos após ser feita, estoura agora nas rádios. E Lobão sorri. Diz que merece ser ouvido, por fim. Este, quem sabe, justifica os meios. Com a palavra, o ouvinte.
Ex-inimigo
"Quando resolvi fazer o Acústico, as gravadoras me disputaram. Pensei: se meus inimigos me querem a peso de ouro, imagine os amigos", afirma Lobão, com uma gargalhada.
E seu mais novo amigo, não por acaso, é alguém contra quem ele já disparou sua metralhadora verbal: o executivo Alexandre Schiavo, presidente da Sony/BMG.
"O Schiavo me disse: você foi o responsável por nosso encolhimento. Mudamos e agora vamos juntos", conta. "Estamos dando um exemplo de conduta, é uma conversa entre homens grandes. Como vou brigar com pessoas que estão concordando comigo? Vamos é ganhar dinheiro."
O músico ressalta que seu Acústico não foi tratado como caça-níquel e que há poucos sucessos antigos. Em arranjos privilegiando os violões, estão no CD sucessos como Décadence Avec Élégance, Essa Noite Não e Me Chama. Do grupo Vímana, de 1976, Lobão gravou a inédita O Mistério ("a canção me veio durante um porre") e reeditou a pérola Bambina, que cantava com Alice Pink Punk no tempo de sua banda Os Ronaldos.