Post by Psycho on Feb 24, 2006 7:38:40 GMT -3
Recebi essa msg da comunidade Diga não ao Jabá, a qual o Edson tb compartilha, e não sei se o Silvio ta la tb... mas achei o texto interessante e resolvi compartilhar ele no fórum para discussão:
A Dança do Jabá
mensagem: A dança do jabá -
do Jornal do Brasil - 31/12/2005 - Caderno B
(Colaboração do Maestro Edson Frederico)www.arturdatavola.com
Projeto de lei a ser votado no início de 2006 e punição exemplar nos EUA
podem coibir a indústria dos sucessos por encomenda no Brasil (trechos)
João Bernardo Caldeira e Nelson Gobbi
Este ano, a prática do ''jabá'' - a verba extra repassada pelas gravadoras
às rádios para execução de seus lançamentos - sofreu seu primeiro grande
revés. Em decisão inédita na história da indústria fonográfica, as
multinacionais Warner Music e Sony-BMG tiveram de pagar US$ 5 milhões e US$
10 milhões de multa, respectivamente, graças a uma ação do Ministério
Público de Nova York, que comprovou que ambas têm utilizado essa estratégia
de promoção perversa, que é antiga e ocorre no mundo todo. Além de criar
paradas de discos falsas, forçar estéticas a partir de critérios comerciais
e não de qualidade, a prática deixa à margem dos meios de comunicação
artistas que não querem (ou não podem) recorrer a este expediente econômico
para divulgar sua obra . Pode demorar para que a medida surta um efeito mais
amplo, mas, ainda assim, a decisão judicial representa uma luz no fim do
túnel para um setor onde a pluralidade musical é vencida pelo marketing
abusivo.
Complicado é repetir no Brasil o exemplo americano. Nos EUA, o jabá (lá
denominado "payola") é crime previsto em lei. Mas por aqui a legislação não
aborda o tema, o que permite a livre atuação. Os executivos da indústria
nacional afirmam que não existe mais jabá no país, mas sim contratos lícitos
de compra de espaço publicitário, conforme explicou ao JB o presidente da
EMI, Marcos Maynard, em matéria publicada há cerca de um ano. A questão é
saber se tal medida não legaliza um novo formato de jabá.
- No Brasil o jabá é camuflado nas atividades de marketing. Emitem nota
fiscal e tudo ao cobrar cerca de R$ 20 mil para que uma música seja tocada
de três a cinco vezes por dia numa rádio. Esse valor, no caso de um artista
de ponta, como a banda Skank, pode chegar a R$ 70 mil - afirma Gueiros Jr.
A medida dos tribunais americanos, que forçou a Warner e a Sony-BMG a se
comprometerem a jamais repetir a prática do payola, pode tornar propício o
momento para que seja aprovada a lei brasileira anti-jabá - que está na
Comissão de Constituição e Justiça e em breve deve seguir para o Senado.
- O jabá é uma instituição perversa e todos concordamos. A criminalização
dele é que eu me pergunto como será. Onde estabelecer uma dimensão
claramente criminosa? - questionou o ministro da Cultura, Gilberto Gil, na
época, que não foi encontrado para fazer novas declarações a respeito do
tema.
- Nada impede que um executivo de um banco internacional assuma o Ministério
da Economia, desde que antes ele se desligue da instituição onde trabalha. O
Gil até poderia conciliar as funções de ministro e artista, mas não como
contratado da Warner - critica Lobão.
- O medo de algumas pessoas em enfrentar a indústria do jabá é até genuíno
no panorama atual: qualquer um sabe que corre o risco de ser deletado da
mídia, caso comece a criticar esse processo.
MPB teve ajuda do jabá -
O temor de serem eliminados dos veículos de comunicação de massa parece
fazer com que os próprios músicos fortaleçam as engrenagens da prática.
André Midani, que deixou a indústria fonográfica há cerca de três anos e em
2003 denunciou publicamente os mecanismos do jabá, conviveu de perto com
essa realidade durante as mais de quatro décadas em que atuou como
presidente de companhias como Odeon, Polygram e Warner Music. Ao tentar
interromper o círculo vicioso, ele percebeu a dimensão dos obstáculos a
serem enfrentados.
De tão antigo e institucionalizado, o jabá ajudou a construir a história da
música brasileira como a conhecemos hoje. Ao longo de sua trajetória, Midani
trabalhou com nomes da bossa nova, do tropicalismo e do rock dos anos 80,
como Elis Regina, Jorge Ben, Caetano Veloso, Chico Buarque, Tom Jobim, Raul
Seixas e Barão Vermelho. Ele confessa que o jabá ajudou a consolidar a
carreira dos artistas com os quais trabalhou.
- Eu paguei jabá para Gilberto Gil tocar nas rádios e pagaria de novo. Não
me arrependo porque muitos desses artistas que hoje são os pilares da música
brasileira talvez tivessem demorado muito mais para acontecer, ou talvez não
tivessem acontecido com tanta luminosidade se não tivessem tido, no meio de
outras opções promocionais, o jabá - afirma Midani.
Mesmo com denúncias feitas por gente como Midani e reclamações públicas de
nomes como Ivan Lins, Cauby Peixoto, Fred 04, do Mundo Livre S.A. e Lobão,
representantes de gravadoras e de rádios - que, procuradas pelo JB, não
quiseram falar a respeito do tema - negam a existência da ''propina''
midiática.
- Não sei exatamente como é lá fora, mas, no Brasil, o jabá é um elemento
quase cultural. É muito importante criar mecanismos para coibir essa
prática, porque ela autodestrutiva. Ninguém faz uma especulação predatória
desse nível no mercado imobiliário, por exemplo, porque sabe do risco de
destruir toda a estrutura de uma só vez. O jabá não corrompe só o comércio,
mas também destrói a alma da música brasileira.
© JB Online
A Dança do Jabá
mensagem: A dança do jabá -
do Jornal do Brasil - 31/12/2005 - Caderno B
(Colaboração do Maestro Edson Frederico)www.arturdatavola.com
Projeto de lei a ser votado no início de 2006 e punição exemplar nos EUA
podem coibir a indústria dos sucessos por encomenda no Brasil (trechos)
João Bernardo Caldeira e Nelson Gobbi
Este ano, a prática do ''jabá'' - a verba extra repassada pelas gravadoras
às rádios para execução de seus lançamentos - sofreu seu primeiro grande
revés. Em decisão inédita na história da indústria fonográfica, as
multinacionais Warner Music e Sony-BMG tiveram de pagar US$ 5 milhões e US$
10 milhões de multa, respectivamente, graças a uma ação do Ministério
Público de Nova York, que comprovou que ambas têm utilizado essa estratégia
de promoção perversa, que é antiga e ocorre no mundo todo. Além de criar
paradas de discos falsas, forçar estéticas a partir de critérios comerciais
e não de qualidade, a prática deixa à margem dos meios de comunicação
artistas que não querem (ou não podem) recorrer a este expediente econômico
para divulgar sua obra . Pode demorar para que a medida surta um efeito mais
amplo, mas, ainda assim, a decisão judicial representa uma luz no fim do
túnel para um setor onde a pluralidade musical é vencida pelo marketing
abusivo.
Complicado é repetir no Brasil o exemplo americano. Nos EUA, o jabá (lá
denominado "payola") é crime previsto em lei. Mas por aqui a legislação não
aborda o tema, o que permite a livre atuação. Os executivos da indústria
nacional afirmam que não existe mais jabá no país, mas sim contratos lícitos
de compra de espaço publicitário, conforme explicou ao JB o presidente da
EMI, Marcos Maynard, em matéria publicada há cerca de um ano. A questão é
saber se tal medida não legaliza um novo formato de jabá.
- No Brasil o jabá é camuflado nas atividades de marketing. Emitem nota
fiscal e tudo ao cobrar cerca de R$ 20 mil para que uma música seja tocada
de três a cinco vezes por dia numa rádio. Esse valor, no caso de um artista
de ponta, como a banda Skank, pode chegar a R$ 70 mil - afirma Gueiros Jr.
A medida dos tribunais americanos, que forçou a Warner e a Sony-BMG a se
comprometerem a jamais repetir a prática do payola, pode tornar propício o
momento para que seja aprovada a lei brasileira anti-jabá - que está na
Comissão de Constituição e Justiça e em breve deve seguir para o Senado.
- O jabá é uma instituição perversa e todos concordamos. A criminalização
dele é que eu me pergunto como será. Onde estabelecer uma dimensão
claramente criminosa? - questionou o ministro da Cultura, Gilberto Gil, na
época, que não foi encontrado para fazer novas declarações a respeito do
tema.
- Nada impede que um executivo de um banco internacional assuma o Ministério
da Economia, desde que antes ele se desligue da instituição onde trabalha. O
Gil até poderia conciliar as funções de ministro e artista, mas não como
contratado da Warner - critica Lobão.
- O medo de algumas pessoas em enfrentar a indústria do jabá é até genuíno
no panorama atual: qualquer um sabe que corre o risco de ser deletado da
mídia, caso comece a criticar esse processo.
MPB teve ajuda do jabá -
O temor de serem eliminados dos veículos de comunicação de massa parece
fazer com que os próprios músicos fortaleçam as engrenagens da prática.
André Midani, que deixou a indústria fonográfica há cerca de três anos e em
2003 denunciou publicamente os mecanismos do jabá, conviveu de perto com
essa realidade durante as mais de quatro décadas em que atuou como
presidente de companhias como Odeon, Polygram e Warner Music. Ao tentar
interromper o círculo vicioso, ele percebeu a dimensão dos obstáculos a
serem enfrentados.
De tão antigo e institucionalizado, o jabá ajudou a construir a história da
música brasileira como a conhecemos hoje. Ao longo de sua trajetória, Midani
trabalhou com nomes da bossa nova, do tropicalismo e do rock dos anos 80,
como Elis Regina, Jorge Ben, Caetano Veloso, Chico Buarque, Tom Jobim, Raul
Seixas e Barão Vermelho. Ele confessa que o jabá ajudou a consolidar a
carreira dos artistas com os quais trabalhou.
- Eu paguei jabá para Gilberto Gil tocar nas rádios e pagaria de novo. Não
me arrependo porque muitos desses artistas que hoje são os pilares da música
brasileira talvez tivessem demorado muito mais para acontecer, ou talvez não
tivessem acontecido com tanta luminosidade se não tivessem tido, no meio de
outras opções promocionais, o jabá - afirma Midani.
Mesmo com denúncias feitas por gente como Midani e reclamações públicas de
nomes como Ivan Lins, Cauby Peixoto, Fred 04, do Mundo Livre S.A. e Lobão,
representantes de gravadoras e de rádios - que, procuradas pelo JB, não
quiseram falar a respeito do tema - negam a existência da ''propina''
midiática.
- Não sei exatamente como é lá fora, mas, no Brasil, o jabá é um elemento
quase cultural. É muito importante criar mecanismos para coibir essa
prática, porque ela autodestrutiva. Ninguém faz uma especulação predatória
desse nível no mercado imobiliário, por exemplo, porque sabe do risco de
destruir toda a estrutura de uma só vez. O jabá não corrompe só o comércio,
mas também destrói a alma da música brasileira.
© JB Online